Criancidade.
Era uma sexta a tarde, parece que foi hoje - ou foi.
Vinha o entardecer, o final do expediente, o momento de parar... e junto com ele, todo aquele turbilhão de questionamentos desgastantes sobre episódios definitivamente tenebrosos que ocorreram durante a semana.
A personalidade 'espirituosa' de quase sempre, foi dar um passeio sem marcar hora de retorno. E o humor 'gaiatinho' já conhecido e esperado, foi substituído por uma vontade de sumir, esquecer, e só. Não bastasse isso, minha cidade fazendo aquele calor que torraria até o próprio demônio.
Sem dúvida não era o dia de sair de casa para socializar, aliás, não era o dia nem para acordar - de preferência (calma gente, nada de tendência suicida aflorando, apenas um certo autismo conveniente.). Mas minha mãe - meio que por ordem (favor) e aproveitando-se toda a minha apelação interna sobre obrigação moral e emocional - me pediu ajuda, então eu fui.
Fui por três horas acompanhá-la num trânsito caótico, em um carro cheio de crianças enlouquecidas, fazendo farra - enquanto eu inutilmente tentava focar no livro de palavras tremidas, que estava lendo durante o balancear do carro...
Tudo que eu mais queria, era que aquilo acabasse o mais rápido possível!
(E como se sabe, em casos assim, o tempo resolveu se eternizar para testar minha paciência "budástica)
Quase duas horas de tortura (Olhei o relógio não havia passado nem trinta minutos), e acontece algo que me intriga: Uma das crianças, com uma alegria eufórica e inocente, ao me ver, entoou um grito gigantesco, com entusiasmo sabe? E um sorrisão incontido brotou como se estivesse vendo ali, o papai noel ou qualquer coisa proporcionalmente mágica para ela.
Era comigo! Eu, que estava lá, mal humorada, introspectiva, chata. Que embora não seja má com crianças, muito carismática com elas nunca fui - ou não recordo ter sido. Foi para mim, foi por mim, o meu nome é que foi pronunciado naquele momento...E por que?
Nem ao menos suponho motivos, lógica, explicações... tudo que sei é que foi de tal forma motivador que me desconectei dos problemas, e tive uma vontade absoluta de retribuir a gentileza com a alegria e sinceridade que me foi doada. A partir dali, o resto pareceu pequeno, e uma plenitude de positividade dominou.
Não lembro dos detalhes, mas até o fim daquele 'programa de índio', pude sorrir e compartilhar o bem; com gente miúda que nem imagina os tipos de problema que me rodeiam - no entanto, foram os únicos capazes de solucioná-los de maneira simples e efetiva.
Agora fico aqui pensando se havendo realmente a existência de Deus, não seria Ele a me enviar aquele 'anjo pestinha' para iluminar as idéias, trazer novamente a fé e a força de seguir em frente.
De todo modo, o que não dá para evitar em casos assim, é reparar nesse jeitinho autêntico da vida (destino, sorte, ou seja lá o que for) em ser encantadora, revigorante e recompensadora. De saber em tempos difíceis, a maneira de despertar a criança adormecida - que enxerga beleza e verdade onde poucos podem ver. De preencher certos momentos com tristezas, só para depois ter a realização de superá-los ,ressaltando especialmente nossa força, adaptação e crescimento.
Mas principalmente, é inevitável mesmo (chega a ser indecente), não comemorar tudo com a falta de sutileza, o exagero e intensidade de emoções, que faz essas transformações essenciais a nós - os dramas em comédias, os casos em acasos, o tempo em resultados, ou virce -versa.
Do pouco, pequeno e miúdo, no único, necessário e vital.
Um viva a tudo, então!
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