Sorte!
Cortei o dedo, consegui a façanha de batê-lo no ventilador de teto - pensei em como sou azarada. Minha mãe, a única que estava em casa, quando viu a quantidade de sangue, passou mal e não pôde dirigir para me levar ao hospital - pensei (chorando, com dor e sangrando) em como sou azarada. Ligamos para meu irmão poder me levar, ele não podia, meu pai, a minha avó, meu avô e minha tia também não - Continuei sangrando, chorando e pensando; como sou azarada.
Quando finalmente consegui alguém para me levar e cheguei no hospital, levei pontos e pensei: poxa, as vésperas de viajar; como sou azarada. Voltei para casa, com dor e inconformada com a minha falta de sorte
[...]
Minha amiga, que me levou no hospital no dia, me disse: Você deu sorte de eu estar em casa e com o carro a essa hora.
Minha avó, quando soube do ocorrido, me disse: Você deu sorte que, do jeito que aconteceu, não pegou no seu pulso.
Minhas outras amigas, um pouco mais sensacionalistas, mencionaram: Que sorte que foi só o dedo, se você fosse um pouco mais alta, poderia ter sido a cabeça ou mesmo seu pescoço.
Minha mãe ressaltou: Que sorte que faz pouco tempo que você precisou tomar a vacina anti-tétânica. (o ventilador é de ferro e tem as pontas enferrujadas)
Ao, dias depois, ir a um especialista ver o estado do meu dedo, ele me disse: Você deu sorte que não cortou um pouco mais, pq teria pego o tendão e ai sim, você teria um problema grande.
Até o meu cachorro, conhecido pela personalidade "dificil", foi o que, por sorte, me distraiu e me manteve mais calma na hora do incidente.
Que sorte que eu tenho um cachorro - mesmo dando o azar de ter o cachorro mais trakina do mundo. Que sorte que eu nunca cresci o quanto achei que 'por azar' não cresci, se não, lá se ia meu pescoço e talvez minha vida. Que sorte que eu tinha várias opções de socorro, e mesmo que por azar elas não estivessem disponíveis eu ainda dei a sorte de encontrar uma opção. Que sorte que um processo burocrático que parecia imenso e impossível de terminar devido ao meu azar, me obrigou a tomar aquelas malditas e doloridas vacinas. Que sorte que não cortou tão profundo, que sorte que eu tenho a oportunidade de conhecer outros pontos de vista, que sorte a minha - que precisa do azar de ser tão desastrada para entender que eu sou a pessoa mais sortuda do mundo. Que sorte!
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