Relacionamento abusivo.

 Ela tinha 17, jovem demais e intensa demais para perceber algo errado naquilo que ela achava ser amor. Ele tinha 20. Nao era muito mais velho, mas era, de longe, bem mais experiente que ela - e sabia disso, e usava isso.

 O namoro durou 3 anos, tres conturbadissimos anos daquilo que se tornou o que um dia havia sido uma amizade bonita entre os dois. 

 Ele nao gostava das amigas dela, entao ela saia menos com elas. 

 Ele tinha ciume dos garotos da escola dela, entao, quase sempre, aparecia para busca-la no colegio.  Ele nao confiava nela e por isso controlava CADA passo que ela dava em sua ausencia. Ir a padaria, por exemplo, passava por um ritual de ligar antes, durante e depois avisando que chegou em casa (pq ele se preocupava com a "seguranca dela"). 

 No cursinho, a mesma coisa. Um ano de cursinho, um ano que ele a acompanhava na ida, na volta e que ela TINHA QUE ligar para ele no intervalo... pra sua seguranca? pq ele ficava "preocupado"?

 Ele, fazia suas faculdades que o mantinham ocupado no tempo que ele nao estava com ela, mas ela nunca podia ir ate la e nunca conheceu nenhum dos amigos dele da faculdade.

 Ele argumentava que ela era muito nova e, nao apenas uma,  mas varias vezes, ela se pegou argumentando com ele que ele nao era melhor que ela em nada por fazer faculdade. 

 Ele discordava e no fundo, ate tinha vergonha dela... quando era conveniente.

 Ela nao podia ter amigos homens, os poucos que mantinha contato, era na presenca dele e o unico amigo que manteve, por ser gay, ela tambem precisava ficar dando sartisfacao de onde estava e o que estava fazendo quando estava com o amigo e nao com ele - a cada meia hora, pelo menos.

 Quando entrou na faculdade, ela conseguiu convence-lo a ir para a festa do trote. Foram. Ela tinha que ficar ao lado dele o tempo todo e na hora do trote, ele NAO DEIXOU ela participar pq "mulher dele" nao participava de putaria assim (era uma danca, de um grupo inteiro de calouros e so ela nao participou).

 Ainda no ensino medio, eles foram a uma festa da escola dela - que obviamente, ela so pode ir pq ele foi tambem - ele, "brincando" a empurrou e a derrubou de uma cadeira no meio da festa, machucando-a. Mas depois ele fez declaracao megalomaniaca pra ela e ela o perdoou.

 Alias, brincar machucando-a era uma coisa que ele gostava de fazer. Muitas vezes ela precisou lembra-lo que nao era "os amigos homens" dele para aguentar certas """brincadeiras""".

 Ele a traiu, varias vezes, antes e durante o relacionamento, a maioria ela so descobriu ao terminar o relacionamento atraves das proprias meninas/mulheres que ele a traia. Uma das traicoes, inclusive, na frente dela, argumentando que na epoca eles nao tinham compromisso serio.

 Ele a manipulava constantemente sobre o que podia ou nao vestir, onde podia ou nao ir, com quem podia ou nao falar. 

 Ela gostava de dancar, nao dancou mais enquanto esteve com ele. 

 Ela gostava de sair com os amigos, mas so podia se ele tivesse junto. 

 Ela gostava de muitas coisas que teve que "desgostar" por ele.

 Ele costumava minar a auto-estima dela comentando como ela era desleixada, e quando ela se arrumava, ele tbm nao gostava, pq isso o deixava enciumado.

 Ele NUNCA a defendeu quando ela precisou, mas estava sempre pronto para ataca-la e ficar do lado de qualquer pessoa aleatoria que falasse qualquer coisa sobre ela.

 Ela cometeu muitos erros nas escolhas e permissoes que fez em relacao a ele. Ele comprrendia e abusava disso, ela nao.

 Ele é um imbecil, ela, foi uma garota, que como milhares de outras, nunca entendeu o que um relacionamento abusivo pode fazer com a gente ate (se conseguirmos) sairmos dele. Mas que saiu, se desinfetou de tudo e de todos que lhe faziam mal e aprendeu com isso a nao permitir que ninguem a trate ou tente torna-la menos do que a pessoa maravilhosa que ela é, que ela sempre foi. 

 Aprendeu a se amar, aprendeu a se deixar ser amada - realmente amada, por uma pessoa e um sentimento que merecem isso - e a ser feliz.

O que passou nao se apaga, mas fortalece e ensina.

E nao, ela nunca foi mocinha, mas ele, com certeza, é o vilao!