O que é o apego?

 Ele passou 15 dias comigo. 
 Meros 15 dias da sua existencia de ja mais de 9 anos e hoje, ele foi embora.

 No comeco eu levei na brincadeira esse apertinho no peito que venho sentindo desde ontem. Percebi claramente que estava irritada e nao encontrando motivos plausiveis, joguei aquela culpa nos hormonios, que, coitados, dessa vez nao tiveram nada a ver com isso. Eu estava, na verdade, ja vivenciando minha "sindrome do ninho vazio", olhando cada detalhe do cotidiano que construimos nessas duas semanas e imaginando os cantos da casa sem aquela presenca, sem aquele barulho, sem aquele amigao preenchendo o lar e a vida.

 Quando ele chegou aqui a duas semanas atras, eu o via como mais um cliente, acolhi e tratei bem como faco com todos, mas, nunca é mais um cliente (coracao mole nao funciona assim), aqueles olhinhos de caramelo no caramelao que ele é, iam me cativar profundamente. Minha profissao tem dessas, é como ser professora, é como ser baba de crianca, voce se apega e nem sabe como aconteceu. Voce comeca a sentir que aquele serzinho ali dependente de voce, na verdade, voce depende mais dele e ele é parte da familia agora e do coracao tambem. 

 Logo pela manha minha compulsao por abracar estava bem aflorada, meu inconsciente ja estava dando sinais de saudade antes mesmo de senti-la, e ele, lindo tambem de alma que é, chegava a sorrir de gratidao em cada abraco. 



 Cuidei de Bud como quem cuida de um filho nesses 15 dias e nao tenho vergonha de dizer que escrevo isso agora com lagrimas nos olhos. Ele tem alergias, problemas de ansiedade, fobia de tempestades e nos trabalhamos tudo isso juntos, superamos boa parte disso em equipe, porque é assim que familia funciona. Construimos um forte, literalmente, para ele ficar protegido quando sentisse medo e fizemos sessoes de musicoterapia para acalma-lo, entravamos ali por horas, eu, ele, meus cachorros, e ficavamos apertadinhos dentro de um abraco ate adormecer. Bud continuava a respirar ofegante, mas ia relaxando ate a respiracao virar ronco, e eu, mae de aluguel que sou, ficava ali ate ter certeza que ele estava dormindo. Nao demorou muito ate me pegar admirando essas criaturinhas com um instinto maternal e um amor que transbordava naquela atmosfera.

 Hoje nao vai ter tempestade, nem safe-place, hoje nao vai ter ronco engracado do lado da cama, ou aquele barulho insuportavel de trovao que o latido dele fazia quando qualquer movimento minimo acontecia perto de casa. Hoje nao teve mais o tec tec das unhas no piso da corrida e brincadeiras entre irmaos e hoje, sem pudor nenhum, lagrimas rolaram meu rosto dizendo tchau pra Bud, mesmo sabendo que nao sera um adeus, mesmo sabendo que outras vezes virao. Bud voltou para casa, voltou pra familia dele, com um sorrisao no rosto de quem foi muito bem tratado e com uma docura no olhar de uma gratidao imensa. Lembrei, ao ve-lo entrar no carro, feliz da vida, que amor é assim: voce deixa livre se for pela felicidade do ser amado, e entao, deixei-o ir, esperando que ele volte em breve, e, se nao voltar, consolada com a certeza de que ele encontrou muito amor aqui.

Cativamo-nos!


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