Mim em dois.
Como se possuisse o palpitar do meu coração submetido ao seu punho firme... no meio daquele nevoeiro de onde nada podia ser identificado - éramos eu, ele e um tipo estranho de diálogo sem voz acontecendo. Algo como consciente e inconsciente debatendo qualquer coisa - Senti que eu deveria ter medo, me retrair, mas meu instinto, meu tão presente impulso de todos os momentos, me permitiu continuar a conversa.
- Então, Je (maldita intimidade que eu não permiti!), você tem medo de morrer?
Perguntou-me ele com uma propriedade de quem já sabia a resposta (na verdade, era mais uma retórica do que uma interrogação propriamente dita).Criatura estranha, asquerosa, prepotente... uma caricatura do David Jones (Piratas do Caribe) apropriada nos meus próprios traços
- Não, claro que não! - eu disse prontamente.
- Ora, minha garota, a quem você pensa que engana? Todo mundo tem medo de morrer. - Continuou com aquela expressão irritante de quem estava dominando a conversa e um sorriso irônico dos que se acham donos da verdade.
- Eu não tenho, não acho que deveria ter... - Continuei numa impaciência e indiferença ambígua aquela criatura 'estranhamente familiar'. Lembrei da minha mãe me ensinando sobre como as 'entidades se apoderam das formas que nos intimidam para nos assustar.', achei graça (vendo por esse lado) das coisas que me intimidam. O nevoeiro se dispersou um pouco com meu humor inconveniente...
- Eu sei que nesse coraçãozinho pulsante tem algum arrependimento, medos obscuros, uma idéia de inferno... você sabe o que acontece quando morre, não sabe?
- Devo saber. Minhas convicções nessa vida dizem qualquer coisa sobre o pós morte, mas isso nem vem ao caso afinal.
- E o que "vem ao caso"?
Era um deboche, com certeza era um deboche. Ótimo, tudo que eu precisava para entrar na minha personalidade mais convicente, a de 'fêmea alpha', possuidora dos argumentos ou piadista...
- Você está rindo de mim Sr... como devo chamá-lo?
- Isso não "vem ao caso". Nomear é necessidade sua, não minha.
- Bom, "Sr.Você", está debochando de mim?
- Você debocha de você mesma.
- E onde essa conversa quer chegar afinal? Por que se bem me lembro, um diálogo tem que ter alguma finalidade pelo menos aos participantes dele... isso é algum tipo de, sei lá, entretenimento? Teoria? Estudo?
- Ao que me parece, somos debochadores, ambos. - Era inevitável notar que quão mais leve a conversa fluia, mais o nevoeiro dispersava e tudo indicava que ele estava seguindo o fluxo que eu queria que seguisse...
- Então temos alguma semelhança afinal... Suponho que Você não teme a morte também...
- Estamos jogando Srta?
- Só se for "Você jogando com Você mesmo" - eu estava adiando alguma coisa na verdade, não sabia o que era, mas sabia que precisaria de força para enfrentar, então dispersei tudo o maximo que pude enquanto me preparava. Ele me olhava curioso, confuso, senti a pela primeira vez que estavamos na mesma posição daquela 'coisa' toda.
- Eu não acho que deveria temer...
- Foi o que eu disse.
- Mas é o que eu acho.
- E por que Você acha isso?
- Essa não era para ser uma pergunta minha para você?
- Sua vez passou, Você fez a pergunta errada...
- E mesmo assim, você não me respondeu. - O ambiente começou a ficar tenso novamente.
- Ok. "Vem ao caso" que eu tenho mais medo do que não é finito, do que da finitude das coisas propriamente ditas. Eu tenho medo de que nada nunca acabe e que eu tenha que ser eterna com elas, para elas.
- E não seria bom ser eterna para as coisas e pessoas que você gosta, que gostam de você? Todo mundo quer isso...
- Eu não quero! Sei lá, diante de tanta possibilidade no mundo, na vida, nas pessoas, a 'eternidade' me parece mais cruel do que a finitude...
- E se você pudesse ter a eternidade?
- Eu não quero...
- E se seu 'querer' não significasse nada? Digo, se não fosse um tipo de escolha?
- Você está me ameaçando Sr. Você?
- Você está se sentindo ameaçada finalmente.
- Claro que não. - Debochei
- Eu sei que está...
- E se eu estivesse?
- Estamos jogando?
- Só se for "você jogando com você mesmo"...
- Percebo que estamos andando em circulos.
- Algum problema sobre isso? Quem determinou em que direção deveriamos andar?
[...]
Ele avançou em direção a mim enquanto o nevoeiro se dissipava. Nesse momento - e apenas nesse momento - senti seu pulso firme na intenção de esmagar meu coração pulsante, estremeci, mas fiquei de pé...
- EU DETERMINO AS COISAS POR AQUI! - Esbravejou Sr. Você gotejando saliva efervecente no meu rosto e finalmente mostrando sua verdadeira face. Não me contive...
- HAHAHAHHAHAHA É sério isso? Essa criatura ridicula, miúda, querendo crescer as custas do meu medo? Ah, por favor né... faço muito melhor indo dormir. Licença... a proposito, esse coração não te pertence, vou leva-lo comigo.

Sai da fumaça. andei em direção ao meu corpo e dormi o sono dos justos. (Oh é, o tempo inteiro eu sabia como sair dali afinal e podia simplesmente ter 'corrido' desde o início...) E essa será lembrada como a noite em que enfrentei 'meus demônios' - aqueles que são também parte de mim e que virão em tantas outras noites, tantas outras vezes... quantas forem preciso para que eu entenda o quão maior que o mal eu posso ser!
Até que 'a morte' literalmente nos separe - sim, por que se eu posso ter uma certeza "do que vem depois daqui" é de que eu fiz o meu melhor sempre que deu e a convicção do merecimento do bem em extensão suficiente para que mal nenhum seja maior que eu. Por isso e por todo o mais, agradeço Aquilo ou Aquele que me dá essa garra, essa coragem de enfrentar... mesmo que Ele - no fim das contas, dos tempos, de tudo - acabe sendo Eu mesma.
"...luta, força e coragem para chegar no fim. E o fim é belo e certo, depende de como você vê... a fé que você deposita em você e só!" (O teatro mágico)
- Então, Je (maldita intimidade que eu não permiti!), você tem medo de morrer?
Perguntou-me ele com uma propriedade de quem já sabia a resposta (na verdade, era mais uma retórica do que uma interrogação propriamente dita).Criatura estranha, asquerosa, prepotente... uma caricatura do David Jones (Piratas do Caribe) apropriada nos meus próprios traços
- Não, claro que não! - eu disse prontamente.
- Ora, minha garota, a quem você pensa que engana? Todo mundo tem medo de morrer. - Continuou com aquela expressão irritante de quem estava dominando a conversa e um sorriso irônico dos que se acham donos da verdade.
- Eu não tenho, não acho que deveria ter... - Continuei numa impaciência e indiferença ambígua aquela criatura 'estranhamente familiar'. Lembrei da minha mãe me ensinando sobre como as 'entidades se apoderam das formas que nos intimidam para nos assustar.', achei graça (vendo por esse lado) das coisas que me intimidam. O nevoeiro se dispersou um pouco com meu humor inconveniente...
- Eu sei que nesse coraçãozinho pulsante tem algum arrependimento, medos obscuros, uma idéia de inferno... você sabe o que acontece quando morre, não sabe?
- Devo saber. Minhas convicções nessa vida dizem qualquer coisa sobre o pós morte, mas isso nem vem ao caso afinal.
- E o que "vem ao caso"?
Era um deboche, com certeza era um deboche. Ótimo, tudo que eu precisava para entrar na minha personalidade mais convicente, a de 'fêmea alpha', possuidora dos argumentos ou piadista...
- Você está rindo de mim Sr... como devo chamá-lo?
- Isso não "vem ao caso". Nomear é necessidade sua, não minha.
- Bom, "Sr.Você", está debochando de mim?
- Você debocha de você mesma.
- E onde essa conversa quer chegar afinal? Por que se bem me lembro, um diálogo tem que ter alguma finalidade pelo menos aos participantes dele... isso é algum tipo de, sei lá, entretenimento? Teoria? Estudo?
- Ao que me parece, somos debochadores, ambos. - Era inevitável notar que quão mais leve a conversa fluia, mais o nevoeiro dispersava e tudo indicava que ele estava seguindo o fluxo que eu queria que seguisse...
- Então temos alguma semelhança afinal... Suponho que Você não teme a morte também...
- Estamos jogando Srta?
- Só se for "Você jogando com Você mesmo" - eu estava adiando alguma coisa na verdade, não sabia o que era, mas sabia que precisaria de força para enfrentar, então dispersei tudo o maximo que pude enquanto me preparava. Ele me olhava curioso, confuso, senti a pela primeira vez que estavamos na mesma posição daquela 'coisa' toda.
- Eu não acho que deveria temer...
- Foi o que eu disse.
- Mas é o que eu acho.
- E por que Você acha isso?
- Essa não era para ser uma pergunta minha para você?
- Sua vez passou, Você fez a pergunta errada...
- E mesmo assim, você não me respondeu. - O ambiente começou a ficar tenso novamente.
- Ok. "Vem ao caso" que eu tenho mais medo do que não é finito, do que da finitude das coisas propriamente ditas. Eu tenho medo de que nada nunca acabe e que eu tenha que ser eterna com elas, para elas.
- E não seria bom ser eterna para as coisas e pessoas que você gosta, que gostam de você? Todo mundo quer isso...
- Eu não quero! Sei lá, diante de tanta possibilidade no mundo, na vida, nas pessoas, a 'eternidade' me parece mais cruel do que a finitude...
- E se você pudesse ter a eternidade?
- Eu não quero...
- E se seu 'querer' não significasse nada? Digo, se não fosse um tipo de escolha?
- Você está me ameaçando Sr. Você?
- Você está se sentindo ameaçada finalmente.
- Claro que não. - Debochei
- Eu sei que está...
- E se eu estivesse?
- Estamos jogando?
- Só se for "você jogando com você mesmo"...
- Percebo que estamos andando em circulos.
- Algum problema sobre isso? Quem determinou em que direção deveriamos andar?
[...]
Ele avançou em direção a mim enquanto o nevoeiro se dissipava. Nesse momento - e apenas nesse momento - senti seu pulso firme na intenção de esmagar meu coração pulsante, estremeci, mas fiquei de pé...
- EU DETERMINO AS COISAS POR AQUI! - Esbravejou Sr. Você gotejando saliva efervecente no meu rosto e finalmente mostrando sua verdadeira face. Não me contive...
- HAHAHAHHAHAHA É sério isso? Essa criatura ridicula, miúda, querendo crescer as custas do meu medo? Ah, por favor né... faço muito melhor indo dormir. Licença... a proposito, esse coração não te pertence, vou leva-lo comigo.
Sai da fumaça. andei em direção ao meu corpo e dormi o sono dos justos. (Oh é, o tempo inteiro eu sabia como sair dali afinal e podia simplesmente ter 'corrido' desde o início...) E essa será lembrada como a noite em que enfrentei 'meus demônios' - aqueles que são também parte de mim e que virão em tantas outras noites, tantas outras vezes... quantas forem preciso para que eu entenda o quão maior que o mal eu posso ser!
Até que 'a morte' literalmente nos separe - sim, por que se eu posso ter uma certeza "do que vem depois daqui" é de que eu fiz o meu melhor sempre que deu e a convicção do merecimento do bem em extensão suficiente para que mal nenhum seja maior que eu. Por isso e por todo o mais, agradeço Aquilo ou Aquele que me dá essa garra, essa coragem de enfrentar... mesmo que Ele - no fim das contas, dos tempos, de tudo - acabe sendo Eu mesma.
"...luta, força e coragem para chegar no fim. E o fim é belo e certo, depende de como você vê... a fé que você deposita em você e só!" (O teatro mágico)
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