"Escolha uma estrada e não olhe para trás."



Quando mais jovem criei um sistema de relacionamentos que sustento - e que me sustenta - até hoje.
Consiste basicamente em retirar - ou deixar - coisas e pessoas da minha vida aos poucos, deletar pequenos pedaços de algo a cada vez que tal coisa demonstra de alguma forma que não vale a pena, isso obviamente é decidido por motivos maiores que uma birra qualquer, geralmente são motivações que reincidiram, afinal, todo mundo e tudo merece uma segunda chance, mas eu não mereço a ilusão de dar chances eternas a quem ou o que definitivamente não vai  mudar.

Com esse sistema sobrevivi as piores crises que já passei e consegui apagar completamente aquilo ou aqueles que não mereciam lugar na minha memória (nem mesmo para mágoa). Popularmente falando "se eu não lembro, eu não fiz" e é justamente assim que a coisa toda flui e dá certo.

Basicamente, guardo comigo indícios dos contatos com todas as pessoas que crio vínculo - são notas na minha agenda, cartas, objetos, fotos na minha caixa, nas minhas pastas, isso é como se fosse meu cartão de memória e regularmente o coloco em manutenção para não sobrecarregá-lo de lembranças inúteis, danosas ou mentirosas. Essa semana por exemplo, abri minha caixa de cartas e retirei dela uns 60% de tralha que sobrou, é estranho quando ela vai esvaziando, quando as coisas vão se dissolvendo no tempo, mas é incrível quando esse mesmo tempo te trás mais conteúdo, gente, situações, coisas que merecem realmente lugar na caixa, nos arquivos, agenda, na memória e coração.

A grande verdade é que até a máquina mais potente do mundo precisa de limpeza de dados para que o acumulo de informações não a torne letárgica, e eu preciso desse sistema, para que não me torne apática, rancorosa e acomodada. Ainda assim, não posso retirar tudo de uma vez dessa máquina para que o sistema não entre em colapso e justamente por isso preciso ir carregando paralelamente o que entra e o que sai de mim e da minha vida... 

Depois que algo - ou alguém - é completamente deletado, ao invés de ser enviado para lixeira (até mesmo lá os arquivos se acumulam), o que realmente acontece é o nada, simplesmente a inexistência, o nunca foi, o jamais será, o vazio do não ser e pertencer... Eu gostaria de dizer que passo a ignorar esse(a) ou isso, mas nem é essa a questão, afinal até para se ignorar é necessário algum esforço e nesse caso é uma indiferença desenvolvida, criada, consentida, é uma leveza deliciosa e calculada (nesse caso, subtraída) meticulosamente para que não haja arrependimento, é natural, necessário e possivelmente irreversível.

Até hoje pelo menos não houve sequer exceção, nem arrependimento, contudo, sempre é necessária muita certeza, firmeza e coragem para que esse sistema realmente valha a pena.

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