Obsoletíveis.

Vivemos em um mundo de emergência e isso é desesperador. Nos acostumamos tanto a instantaneidade que desaprendemos a esperar. Perseverar é palavra em completo desuso ou em excesso, não existe mais meio termo, definitivamente
Quando demora mais do que queremos (ou nos habituamos), deixamos simplesmente de lado e trocamos por uma opção mais prática, simples e rápida. Quando é algo que não se substitui a gente persevera de forma frenética achando que toda essa neurose pode acelerar a ordem natural das coisas - aliás, nada mais acontece com naturalidade, tudo tem que acontecer "para já" e preferencialmente ao mesmo tempo, estamos surtados, só pode.
Consigo pensar em pelo menos duas ou três situações diárias que comprovam essa insanidade coletiva, seja essa necessidade exagerada de respostas rápidas sobre qualquer coisa que deveria ser amena e adiável; essa compulsão por engolir informações sem ao menos conseguirmos processá-las ou esse consumo abusivo de tralha, só para estar em dia, estar na moda, acompanhar.
Não sei em que momento nos tornamos tão "obsoletíveis" assim, mas tenho certeza de que é contagioso. Me pego - mesmo achando desnecessário e inaceitável -  tentando seguir o fluxo e enlouquecendo com um ritmo que não é meu. Por vezes me perco entre o que realmente preciso ter ou fazer e o que me programei a priorizar como o que deve ser feito ou possuído, inclusive, desconfio que já não sei mais discernir entre os dois e isso realmente é preocupante, afinal, a gente se torna vazio e sem rumo quando não sabe o que quer, o que tem e precisa, quando aceita qualquer coisa como tudo e qualquer um como alguém relevante.
Cada vez mais me percebo nadando contra uma forte correnteza que arrasta as pessoas para a compulsão e o desespero, que tira delas o direito a calma, aproveitamento e a paz - e que de forma irritantemente controversa só prova que essa aceleração toda é uma busca frenética por mansidão.


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