Instagramas de atencao.
Entrei no instagram em 2016.
Na epoca, amigos me convenceram a aderir a rede social porque "tem promocoes", "gente famosa", "ninguem mais usa o facebook" e eu lembro de ligar pouco ou nada para cada argumento desse. As promocoes eu nunca participo, apesar de ser marcada em muitas delas. A gente famosa eu posso acompanhar por outros meios, embora tenha alguns artistas que eu gosto de ter essa """proximidade""", e quanto ao "ninguem mais usa o facebook", veja bem meus queridos, eu estou escrevendo num blog agora, entao nao é como se eu ligasse muito pra essa historia de ser a rede social do momento ou nao. Uma amiga proxima, contudo, me convenceu a entrar no instagram "pelas fotos". Segundo ela "as fotos la sao muito bonitas e voce pode postar quantas fotos quiser", coisa que no facebook eu fico meio constrangida de fazer porque sempre acho que preciso justificar cada foto postada, ou a quantidade de fotos que postei. Entrei entao.
Mal cheguei e ja comecei a receber conselhos de conduta que achei bizarrissimos. O tal do instagram realmente podia postar quantas fotos quisesse e todas as fotos postadas eram lindas, "bem trabalhadas", mas haviam regras, muitas delas. "Poste as 6 da tarde, que é quando vai gerar likes" me explicou um amigo, argumentando que esse seria o horario que mais pessoas estariam acessando. "Nao poste foto sem filtro. As fotos postadas tem que ser editadas. O instagram tem uns filtros otimos, olha aqui" ressaltou outra amiga minha. "Se for postar fotos antigas, so pode ser em dia de tbt", disse uma outra. "O feed tem que ser combinadinho, todo da mesma cor" a "instagrammer" determinou e "se voce nao consegue fazer o feed de uma cor so, pelo menos faca triozinhos de fotos parecidas, para ficar organizado" constatou uma pessoa "mais real". E eu segui a maioria dessas regras, as que ousei quebrar, foram enfaticamente questionadas como um crime ediondo. Sem notar, "eu que nao fumo, queria um cigarro", como diriam os engenheiros do hawaii. Eu, que nao ligo para moda, queria estar dentro dela. Eu, que sempre fui do contra, e gosto de ser assim, queria ser igual, queria estar padronizada. Eu, que ja nao era tao eu assim, adoeci. E num mundo de pessoas que estao tao adoecidas quanto eu, ou que, se ainda nao adoeceram, irao adoecer, ser doente é normal. Ser doente é padrao.
Por fim, do padrao doente, ficam as sequelas. A insatisfacao com o corpo. A comparacao com a vida dos outros. A necessidade desesperada de aprovacao, de likes, de opiniao de um monte de gente que te representa ou te acrescenta absolutamente nada na vida real. Do padrao doente, fica o vicio, a dependencia, a ideia infundada de que, por melhor que voce seja, ou por melhor que as coisas sejam para voce, elas nao sao suficientes ainda, voce nao é suficiente. Do padrao doente fica uma cegueira coletiva, e abrir os olhos é complicadissimo, porque queima a sua retina com tanta cor, tanto filtro, tanta alegria montada. Voce se enxerga rodeado de gente perfeita que nao existe, entende que a importancia que o instagram te da, nunca existiu realmente, e voce se assusta. Tenta correr dali e se pega preso sabe-se la em que. O instagram meio que desperta o masoquista que ha em todos nos, e a gente acaba por "gostar" de sofrer. Inclusive, muito provavelmente, depois de terminar esse texto, estarei de volta la, com meu sorriso estampado e minhas cores vibrantes.
Tentei fugir ontem, ele me capturou de novo, entao se aceita o bom conselho que estou te dando no meu pequeno lapso de lucidez, (e se, por algum milagre, voce ainda nao vendeu sua alma ao diabo tambem): NAO ENTRE. Voce nao precisa dos instantes de gramas de atencao.
(E se Deus e a minha forca de vontade me permitirem, eu tambem nao precisarei, muito em breve).
Na epoca, amigos me convenceram a aderir a rede social porque "tem promocoes", "gente famosa", "ninguem mais usa o facebook" e eu lembro de ligar pouco ou nada para cada argumento desse. As promocoes eu nunca participo, apesar de ser marcada em muitas delas. A gente famosa eu posso acompanhar por outros meios, embora tenha alguns artistas que eu gosto de ter essa """proximidade""", e quanto ao "ninguem mais usa o facebook", veja bem meus queridos, eu estou escrevendo num blog agora, entao nao é como se eu ligasse muito pra essa historia de ser a rede social do momento ou nao. Uma amiga proxima, contudo, me convenceu a entrar no instagram "pelas fotos". Segundo ela "as fotos la sao muito bonitas e voce pode postar quantas fotos quiser", coisa que no facebook eu fico meio constrangida de fazer porque sempre acho que preciso justificar cada foto postada, ou a quantidade de fotos que postei. Entrei entao.
Mal cheguei e ja comecei a receber conselhos de conduta que achei bizarrissimos. O tal do instagram realmente podia postar quantas fotos quisesse e todas as fotos postadas eram lindas, "bem trabalhadas", mas haviam regras, muitas delas. "Poste as 6 da tarde, que é quando vai gerar likes" me explicou um amigo, argumentando que esse seria o horario que mais pessoas estariam acessando. "Nao poste foto sem filtro. As fotos postadas tem que ser editadas. O instagram tem uns filtros otimos, olha aqui" ressaltou outra amiga minha. "Se for postar fotos antigas, so pode ser em dia de tbt", disse uma outra. "O feed tem que ser combinadinho, todo da mesma cor" a "instagrammer" determinou e "se voce nao consegue fazer o feed de uma cor so, pelo menos faca triozinhos de fotos parecidas, para ficar organizado" constatou uma pessoa "mais real". E eu segui a maioria dessas regras, as que ousei quebrar, foram enfaticamente questionadas como um crime ediondo. Sem notar, "eu que nao fumo, queria um cigarro", como diriam os engenheiros do hawaii. Eu, que nao ligo para moda, queria estar dentro dela. Eu, que sempre fui do contra, e gosto de ser assim, queria ser igual, queria estar padronizada. Eu, que ja nao era tao eu assim, adoeci. E num mundo de pessoas que estao tao adoecidas quanto eu, ou que, se ainda nao adoeceram, irao adoecer, ser doente é normal. Ser doente é padrao.
Por fim, do padrao doente, ficam as sequelas. A insatisfacao com o corpo. A comparacao com a vida dos outros. A necessidade desesperada de aprovacao, de likes, de opiniao de um monte de gente que te representa ou te acrescenta absolutamente nada na vida real. Do padrao doente, fica o vicio, a dependencia, a ideia infundada de que, por melhor que voce seja, ou por melhor que as coisas sejam para voce, elas nao sao suficientes ainda, voce nao é suficiente. Do padrao doente fica uma cegueira coletiva, e abrir os olhos é complicadissimo, porque queima a sua retina com tanta cor, tanto filtro, tanta alegria montada. Voce se enxerga rodeado de gente perfeita que nao existe, entende que a importancia que o instagram te da, nunca existiu realmente, e voce se assusta. Tenta correr dali e se pega preso sabe-se la em que. O instagram meio que desperta o masoquista que ha em todos nos, e a gente acaba por "gostar" de sofrer. Inclusive, muito provavelmente, depois de terminar esse texto, estarei de volta la, com meu sorriso estampado e minhas cores vibrantes.
Tentei fugir ontem, ele me capturou de novo, entao se aceita o bom conselho que estou te dando no meu pequeno lapso de lucidez, (e se, por algum milagre, voce ainda nao vendeu sua alma ao diabo tambem): NAO ENTRE. Voce nao precisa dos instantes de gramas de atencao.
(E se Deus e a minha forca de vontade me permitirem, eu tambem nao precisarei, muito em breve).
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