Os menos mais.

Estou a muito tempo tentando expressar uma indignação contida dessa gente vazia de alma, coração e cabeça que se tornou os exemplares da espécie humana.



Até agora um acúmulo de expressões me engasgam e nada consigo produzir a não ser um silêncio preenchedor. Acho que é a forma inconsciente de dizer a mim mesma o quão perda de tempo é falar certas coisas para quem não merece nem meu desprezo, aliás, é a forma de desprezá-los.

Acontece que por mais que minha racionalidade e - sem dúvida - superioridade me impeçam de rebaixar-me a certos níveis, há uma grande parcela minha que sente, que sofre e que obriga-se a fazer algo em relação a isso. Por que meus olhos estão tornando-se cegos a injustiças, meus ouvidos tornaram-se surdos a apelos de muito tempo, e meu tato a cada dia que passa se confunde mais no discernimento do certo e do errado.

Penso incansavelmente que num dia qualquer posso ser convidada para um almoço em família pelo meu pai e não poderei ao menos sentir vontade de ir ao banheiro, por que a qualquer momento enquanto eu estiver ausente meu pai e meu irmão podem se abraçar e os outros acharem que eles são gays, e baterem neles, maltratarem, humilharem. O mesmo serve para minhas amigas comigo.

Penso que não tenho direito de morrer, por que se isso acontecer não tenho garantia nenhuma de que cuidarão por exemplo, da minha poodle... Um animalzinho indefeso que nunca fez mal a ninguém - pelo contrário, só dedica amor e fidelidade - mas que a qualquer momento pode ser também maltratada, humilhada, tanto quanto outros animais são o tempo todo.

E meus pais? qual a garantia que tenho de que quando eles forem idosos, alguém terá por eles o respeito e o cuidado que eu terei, sem machucá-los, ofendê-los? Ou pelos meus filhos enquanto não tem sua independência?

Penso que não posso mais me divertir - Sair a noite implica obrigatoriamente em bebedeiras, brigas de bar, prostituição, drogas e/ou acidentes de automóvel. Saindo de dia posso ser assaltada, sequestrada, espancada, estuprada  e milhares de outras coisas terríveis. Não existe mais a paz e serenidade de simplesmente estar se divertindo com os amigos e poder amanhecer tranquilamente dormindo na sua cama no outro dia.

Não posso comer, por que as comidas são nocivas - todas elas. E nem sempre posso beber, por que podem haver drogas na minha bebida, ou ela pode estar contaminada com algo que se não criado, causado pelo homem.

Esportes nem pensar, eles são sinônimo de torcidas organizadas e  mais e mais violência. Trabalho só se for para se estressar, e pessoas queridas, só quando são convenientes. Saúde tornou-se lenda e paz, utopia. Entretenimento é alienação e religião virou política, ao tempo em que política virou bandidagem e bandido continua sendo bandido camuflado de padre pedófilo ou pai de família.

Respirar se tornou fazer dinheiro e viver está ai quase como sendo um detalhezinho irrelevante na nossa medíocre existência humana. O planeta? Não precisamos dele... ainda temos pelo menos nove outros por ai para destruir.


É como se absolutamente tudo que podemos ter e ainda temos de bem e de bom, fosse automaticamente e naturalmente substituido para destruição e mal. O amor próprio vem se moldando para um injustificável ódio coletivo; E a pouca esperança, fé e positividade que quase ninguém mais possui, um estímulo a ser contrariado por uma maioria devastadora que acha normal ser doente de espírito e deficiente de coração.

Ainda assim existe uma minoria que faz de sua essência intacta pelas coisas do mundo o combustível que explodirá todo o mal, quando entra em combustão com um fogo de poder de transformação incalculável existente dentro de cada um deles. E é por essa minoria que eu continuo, que eu luto, acredito e faço parte - a minha pequena e essencial parte - e que espero do fundo do coração contagiar e conquistar a todos.

Você, de que lado está?

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