Embolhar.
Papai sabão juntou-se a mamãe água e me criaram numa bolha.
Lá não tem mal, não tem feio e não tem dor, mas tem transparência e toda uma possibilidade visual para as fronteiras inacessíveis do mundo real.
Da minha bolha eu enxergo coisas que adoraria nem sequer imaginar que existem. Vejo ódio, violência, preconceito, injustiça. Participo passivamente de uma maldade coletiva que me inclui como 'sociedade', ainda que de dentro da minha bolha e ainda que eu tenha convicção de não fazer parte dela.
Observo o mal e praticamente nada posso fazer para mudá-lo, embora uma motivação incontida dentro de mim me dê esperanças de que existe uma possibilidade minima das pessoas terem bolhas como a minha e poderem proteger a si e aos outros numa estrutura pura, cheia de base amorosa, cuidado e carinho.
Há quem diga que toda essa fantasia é prejudicial, no entanto eu prefiro me prejudicar por sonhar demais do que por estourar aquilo que me mantem sã nesse mundo de atrocidades e desesperos, nessa existência de uma maioria que praticamente não consegue sequer manter sua saúde mental.
Tenho na minha bolha possibilidades indescritíveis para qualquer um que não aprendeu a sonhar, mas mais que isso, tenho como trazer para dentro dela todo aquele que se permitir viver de sonho e que tenha vontade e atitude de fazê-los se realizar.
Sinto-me como o ar que faz essa bolha crescer e que quanto mais a preencho mais ela se expande e se junta a outras pequenas bolhas soltas nesse infinito espaço tão vazio, ou melhor, cheio de dedos que querem e farão de tudo para nos estourar e nos destruir.
É claro que estar na bolha é opcional e assim como se pode ser criada dentro de uma, pode-se também querer sair dela, ou entrar em uma a qualquer momento da vida... tem mais haver com o tipo de gás que a gente se torna e se ele será merecedor ou não de uma bolha. Se de alguma forma receberá a honra de poder conquistar seu espaço e ser/fazer a diferença em meio a tanta impureza que existe por ai.
Não significa também que estar na bolha classifique alguém como melhor ou pior que os demais, muitas vezes é questão de ter tido a sorte de ser bem criado ou a inteligência de querer e buscar o melhor. Mas o privilégio é para poucos e bons, é para aqueles que não usam uma racionalidade brutal para viver, que não se valem do mal para fazer acontecer, ou que desperdiçam seu cérebro, corpo e espírito em bestialidades indignas para a condição humana, aliás, indignas a todo e qualquer ser que foi abençoado com a dádiva da vida.
Ser bolha - fazer e estar nela - é aceitar que o mundo é imperfeito, mesquinho e primitivo... e ainda assim amá-lo e querer o melhor para ele. É contribuir com uma partícula minúscula mas tão forte quanto um átomo. É ser pai, ser mãe, irmão, irmã, amigo, parceiro, caridoso, bondoso, inteligente, enfim, HUMANO no melhor sentido da palavra.
É orgulhar-se por ainda ter muito o que aprender ao invés de vangloriar-se por uma reduzida e suposta inteligência e evolução que faz da grande parte os verdadeiros iludidos, enganados e utópicos. Os verdadeiros errados e incapazes de possuírem a essencial felicidade de ter algo ou alguém pelo qual se vale realmente a pena estar vivo.
E eu continuarei bolha até que aja sabão e água suficientes para lavar tudo de ruim que houver no mundo. Até que as bolhas tornem-se atmosfera e preencham com sua beleza, cores, leveza, com sua contagiante e infinita capacidade de mudar, crescer, alegrar e até mesmo 'salpicar' de uma essência verdadeira e transparente, tudo que estiver por perto.
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