Crônicas de uma segunda feira.

Não sou adepta ao grupo de inimigos da segunda-feira, e até então não tive motivos para me tornar. 

Acontece que após um final de semana que já não me foi dos melhores... a semana chega literalmente aos berros depois de uma breve e quase imperceptível noite de sono. 

Sabe-se lá por que, o meu maldito despertador resolveu ser temperamental e folgar sem meu consentimento. Até ai é aceitável, se não fosse pelo fato de que a minha poodle também  entrou em greve e não cumpriu seu dever (despertador de emergência) pulando em cima de mim e evitando que toda a confusão já começasse a se formar logo pela manhã. 

A porta do meu quarto milagrosamente se trancou - o que me impediu de ouvir o telefone residencial tocando - e as minhas roupas estavam num momento lúdico de querer brincar de esconde-esconde. Em meio a tudo isso, todas as coisas que eu obrigatoriamente tinha que lembrar para a manhã de hoje, tornaram-se poeira de um universo alternativo que só se manifestava quando eu realmente precisava delas.

Entre deveres não cumpridos, correria e obrigações adiadas em decorrência destes ou daqueles... chega o "bom humor" do outro afrontando meu espírito esportivo - Sim, por que não basta ser ruim, tem que ser péssimo e tem que ter gente para piorar. Pulei da cama com berro da minha mãe que mais parecia estar soltando a alma pela boca, em linguagens ancestrais perdidas no que eu estava sonhando e o pesadelo que meu despertar se tornou. 

Ela esbravejava, xingava e fantasticamente nem parava para respirar. Sei lá como, sei lá onde, aliás não sei nem onde eu estava e quem eu era... só sei que um imã irresistível puchou meu pé com toda força para a quina da cama e - caralho - isso me trouxe em um flash ao caos que se estabeleceu ali. 

Pronto, tinha finalmente acordado.

Corri para o trabalho com a primeira roupa que encontrei (se escovei os dentes foi lucro) e engoli qualquer suco industrializado que catei na geladeira. Cheguei lá com aquela cara de zumbi, como se curtindo uma ressaca de uma noitada que nem existiu - e atrasada, claro! Todos me olhavam com uma cara de desaprovação, além disso, minha biologia resolveu se manifestar e fazer aquela bagunça nos trapos que eu estava vestindo.

Subi para a minha sala - depois de pegar um casaco para amarrar na cintura, encarei a tarefa de explicar tudo que aconteceu para a minha chefe mesmo correndo o risco de parecer apenas mais uma estagiária enrolando para não trabalhar - embora na prática, em sua maioria, são os que mais trabalham. Em seguida me dirigi ao local onde estava ocorrendo um curso que eu havia me inscrito dias antes para participar lá no trabalho mesmo...

Mal cheguei  e descobri que era o "dia das apresentações". Então lá fui eu, a mais nova do grupo - e aparentemente  a mais desleixada também - me expor para pelo menos trinta pessoas presentes (reputação é psicológica!) e dizer com um sorriso no rosto o quanto estava satisfeita em ter oportunidade de participar de tudo aquilo (nada pessoal com o curso, mas devido as circunstâncias, foi uma missão quase impossível - na verdade eu queria ter mandado tudo e todos se foderem e ter voltado para  minha casa para dormir.)

Terminei o curso - mais tarde do que o previsto - morrendo de fome, mas devido a hora perdi a minha carona e tive que vir para casa de ônibus... foi quando constatei que só tinha na bolsa dois reais e cinco centavos - puta merda - e que teria que arrumar quinze centavos, ou vir a pé para a minha casa na cidade do Sol, num sol de 13:00 de um dos dias mais irritantes e desgastantes dos últimos tempos...

Enfim, seduzi o cobrador! Resolvi o problema do ônibus, cheguei em casa, almocei, fui recebida carinhosamente pela minha poodle, e apesar de saber que na noite de hoje terei uma prova na faculdade que possivelmente vai destruir meu dia ainda mais... decidi que a odiosa segunda feira não vai me convencer a odiá-la, por que tudo se resolve e eu não vou dar-lhe o prazer de ter um infarto justamente no seu dia.

"Pode vir quente que eu estou fervendo."

P.S: Serve também para problemas e inimigos.