A licao de Fiona.




Fiona vai deixar este mundo, assim como todos nos iremos tambem, um dia. 
So que Fiona tem hora e data marcada. Fiona tem apontamento para deixar de viver, e por mais triste e pesado que isso pareca, é a maior prova de amor que o mundo e as pessoas que a rodeiam podem da-la agora. Explico:

Nao de hoje, os olhos doces e mania de aconchego de Fiona, escondem uma saude que nunca foi completamente saudavel. Ela é feliz, nao ha o que se discutir sobre isso, mas seu corpinho padece desde sempre de umas "convulsoes sem explicacao". Inicialmente, episodios esporadicos de poucos minutos que aconteciam umas poucas vezes no mes. Depois, com o passar dos anos, as crises aconteciam com maior frequencia, seguidas de maior intensidade. Finalmente chegando ao quadro atual, onde as convulsoes de Fiona tem um maior tempo de duracao... um tempo infinitamente maior de duracao.

Hoje foi o dia de ir me despedir de Fiona. No fim dessa semana ela sera "colocada para dormir", como nosso eufemismo gosta de traduzir. Seus tutores dedicarao os proximos dias a proporciona-la todo amor e alegria que ela puder ter antes de partir. Eu, tive a honra de ser umas das escolhidas para partilhar esse ultimos momentos com ela. Qual nao foi minha surpresa ao me deparar com uma Fiona ativa, cheia de energia, amor, e super feliz em me ver? Por um segundo, havia em mim uma esperanca de que tudo nao tivesse passado de um delirio, um pesadelo que esqueci de acordar, mas nao, a realidade que esta por vir é certa, é solida. Fiona vai deixar este mundo mesmo. 

Entao porque "os simbolos esperados para uma situacao dessa" nao se apresentaram? 
Por que nao encontrei uma cachorrinha debilitada? 
Por que nao me deparei com familiares chorosos e se mal-dizendo da vida? 
Por que a "clima" nao pesou? 
Eis a resposta: Por amor!

Por um amor tao grande que deixa de lado o egoismo de querer mante-la aqui, mesmo com todo sofrimento. Um amor tao desprendido, que compreende que apesar dos pequenos momentos de alivio (como os que eu presenciei hoje), o peso de suas dores e crises tem sido grandes demais para pedi-la para ficar. Um amor tao maduro que percebe a realidade "inevitavel" (entre aspas, porque eu ainda acredito em milagres!) de um tumor crescente, e que nao tem a infantilidade de querer fingir que ele nao existe, so para ter o ser amado um pouco mais. Um amor que provavelmente eu desconheco, e nao sei se teria (ou terei um dia) a forca e a coragem necessarias para amar dessa forma. Um amor de doacao total, caridoso, bonito, bom. Amor na sua mais pura forma, daquele que vai muito alem da nossa humanidade, mas que nos é ensinado diariamente por esse serezinhos de luz que a gente insite em dizer que sao menos evoluidos do que nos.


Va em paz Fioninha. Cruze a ponte do arco-iris, de um abracao apertado na sua irma por nos, e saiba, em cada segundo da sua eternidade, que o que nos da forca para dizer adeus é o amor que voce nos ensinou a sentir com seu olhar doce, seu jeito meigo, e sua forma de nos dizer que amar é, tambem, deixar ir. Foi uma HONRA inenarravel fazer parte do seu percurso terrestre e espero que a gente possa se esbarrar na eternidade. Te amo tambem.


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