Andorinha

Certa vez teve aquele evento que ela queria muito ir e acabou desistindo por falta de companhia.
Depois, tiveram aquelas muitas vezes que ela convidou todos os contatos da sua lista telefonica para uma saida simples, um lanche rapido ou uma conversa despretensiosa e acabou ficando em casa, sozinha e chateada. 
Tiveram os shows perdidos.  As trilhas canceladas. Viagens e passeios que nunca aconteceram. Os varios atos do projeto social que terminaram antes mesmo de comecar, por falta de pessoal (mesmo ela tendo convidado o maximo possivel de pessoas que conseguiu).As vezes que ela saiu batendo na porta das pessoas que conhecia e ninguem tinha disponibilidade para ela, ninguem tinha prioridade para ela.
Pensando bem, muitos foram os finais de semanas solitarios. Os programas planejados (para agradar todo mundo e com muito tempo de antecendencia) que viraram (quase) sempre um "surgiu um imprevisto". E nossa... como surgiram emprevistos. 
Pior, tiveram aquelas vezes que ela realmente precisou de alguem, de qualquer um, de quem quer que fosse... por questoes de urgencia, de saude, de crise.  As vezes que ela implorou ajuda e companhia e se viu completamente perdida no abandono. As vezes que ela chorou, que imaginou mil motivos para entender porque tanta indiferenca. Que se culpou. Que se arrependeu. Que se deixou abater.


Incontaveis foram as vezes que o medo da solidao a balancou. Inumeras foram as vezes que ela caiu no erro de depender dos outros para fazer o que quer que fosse, mas nao dessa vez.



Dessa vez ela decidiu onde e quando iria, para onde queria ir. 
Fosse so, fosse acompanhada. 
E ela foi.
Dessa vez ela foi aquele evento e chegando la, acabou descobrindo nela uma excelente boa companhia para si mesma. Ela decidiu ir fazer um lanche rapido, a saida simples e conversou despretensiosamente com seus cachorros, com seus livros, com sua consciencia. Ou ate mesmo com estranhos aleatorios que ela resolveu se abrir a conhecer. 
Ela foi ao cinema sozinha dessa vez, e em muitas outras vezes. Saiu para almocar sozinha dessa vez, e em algumas outras vezes. Passeou nos lugares que queria passear, sozinha dessa vez, e provavelmente nas varias outras vezes que precisar.
Dessa vez ela manteve o projeto social e foi a todos os dias de trabalho voluntario que se comprometeu a ir, independentemente do comprometimento dos outros. 
Dessa vez ela foi aos shows, fez as trilhas, viajou ao redor do mundo. Os imprevistos dos outros nao influeciaram os planos dela. O desinteresse dos outros nao atrapalhou os interesses dela. 
Dessa vez ela abracou os espinhos da sua solidao e sangrando, jurou (como em muitas outras vezes) nao cair mais na cilada de depender de ninguem, de ter expectativas com quem quer que fosse. Foi entao que ela percebeu, que esse medo de estar so esteve sempre la, mas que, como dessa vez, tambem houveram varias outras em que sua vontade de viver foi tao maior que quase nunca a impediu de fazer qualquer coisa que ela quis ou quer fazer. Ela lembrou das dezenas de vezes que teve que "se virar" e se virou mesmo. Se virou muito bem. Se virou sem ninguem.

Porque uma andorinha so pode ate nao fazer verao, mas ela faz um trajeto tao lindo e tao autentico que ninguem poderia fazer por ela. Ninguem fara por ela.

(Apesar de todo esse meu defeito de me doar e me doer demais esperando reciprocidade, penso em tudo que ja fiz e conquistei sozinha e com orgulho posso parafrasear certa musica que diz: É bom olhar para tras e admirar a vida que soubemos fazer.)

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